Prego de ouro

nsraaparecidaPorto Belo, SC, 18 de Abril de 2009

Ao arrumar as malas do menino, com o enxoval para o seminário, sua mãe notou que entre os materiais escolhidos, havia um prego, e tirou-o então para fora da mala. Mas o menino pediu:

– Mãe, deixa eu levar este prego: o “Lelo” falou que, no seminário, apenas com um prego se poderia fazer muitas coisas!

A mãe achou graça e deixou o prego na mala.

– Mãe, a senhora acha que o “Lelo” disse bobagem? Que eu então, não devo levar o prego?

– Se o “Lelo” disse, deve ser verdade: ele já passou pelo seminário e deve saber… Pode levar o prego, disse a mãe, com o carinho que só as mães sabem ter.

Mas, já no seminário, ele não achava lugar para o prego:

– Para que será que serve o prego que eu trouxe? Aqui tem prego à vontade… Tem a marcenaria, tem a carpintaria, mas já tem muitos pregos… Para que precisa o meu?

Mas guardou num cantinho do criado-mudo, até porque:

– Este prego, a mãe tocou nele quando arrumou a minha mala, e ele então mata um pouquinho as saudades dela!

E assim, o ano se passava rapidamente, e muitas coisas de madeira foram feitas: muitos pregos foram usados, nos móveis, nas construções…

No mês de Outubro a comunidade receberia com amor, uma Imagem de Nossa Senhora Aparecida: uma cópia da imagem original:

– Esta imagem que foi “tocada” na imagem original que está no Santuário de Aparecida do Norte, chegará no dia 12 pelo trem misto, e ficará aqui na nossa Igreja para sempre, anunciava o Padre Vitor, por toda a cidade, em altos falantes e pela rádio local.

O povo de todas as partes da cidade e da região, se uniu junto à estação ferroviária para receber Nossa Senhora Aparecida para depois acompanhá-la em procissão até à Igreja Nossa Senhora do Rosário, onde permaneceria para sempre.

De repente, alguém percebeu:

– O andor está quebrado: está soltando um dos cabos… Vamos precisar de um prego para consertar…

– Eu tenho um prego aqui no bolso! Eu o trouxe para tocar na Nossa Senhora, para ela tocar na minha mamãe! Mas acho que minha mamãe vai ficar contente de saber que o prego serviu para o andor de Nossa Senhora.

E o andor foi consertado. Houve a procissão, houve a festa, e o andor foi guardado em um depósito na marcenaria, e todos os anos, no mesmo dia, a procissão saía pelas ruas da cidade levando a imagem sobre aquele andor, para alegria do rapaz:

– Olhem lá o prego que eu dei. Aparece bem: é aquele que está bem perto dos pés de Nossa Senhora. Vejam como ele é bonito! E tem o toque de minha mamãe, que está tão longe…

Passaram-se os anos e passou o tempo de seminário… Na verdade, já passaram-se 50 anos…

Há poucos dias atrás, visitei o seminário e encontrei o Padre Superior envolto nos trabalhos da marcenaria e me lembrei do andor antigo…

– Aquele andor já não é mais usado nas procissões: ele foi reformado e agora é o pedestal daquela imagem e está sempre na Igreja…

Não esperei o Padre acabar de falar, e, “num pulo” cheguei à Igreja, junto ao altar de Nossa Senhora Aparecida…

– Mãe! Mãe! As duas mães!

De fato, Nossa Senhora e minha mãe terrena – que está no Céu – apontavam para mim o prego, que há 50 anos “adornava” aquele andor…

– É de ouro, Filhinho! Este prego é de ouro!

E o prego era de ouro!

Amém!


Cláudio Heckert.

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